Alice está inquieta. Os dedos enrolam o fio do telefone público enquanto aguarda o que parecem ser infinitos toques de chamada.
Ela pensa em desistir e se questiona se aquela ligação vale a pena mesmo. Se questiona o porquê de estar fazendo aquilo para começo de conversa. Não tinha com o que o que se preocupar, afinal era comum que suas ligações não fossem atendidas, mas daquela vez parecia diferente.
Antes que sua mente encontrasse motivos para não ser atendida, ouve um sinal do outro lado, seguido de uma voz estranha e anasalada:
-O que que foi, hein?
Ela engole seco, intrigada. Quem poderia estar do outro lado? Ela tinha certeza que tinha discado o número certo. Será que trocou o 8 pelo 9? Esses últimos dígitos são sempre os mais difíceis porque ela costumava se distrair ao digitar. Além disso, acabou lendo o panfleto que se encontrava abaixo do teclado.
“190: emergência. 153: linha para deficientes auditivos… Hum, como será que um deficiente auditivo usa esse número de telefone? Será que aparece um texto no painel? Não pode ser, é tão pequeno.”
Enquanto ela ponderava sobre o que poderia ter acontecido, a voz, agora mais exaltada repete:
-Olha, se ligou por alguma brincadeira, espero que saiba que.
-Desculpa, eu estou procurando por Ace, será que liguei para o número certo?, ela interrompe, com a voz envergonhada.
A linha fica muda por alguns instantes. O silêncio é interrompido por um som de tosse e por uma voz familiar.